Para entender a causa da doença de Sever ou apofisite do calcâneo é preciso entender primeiro como ocorre o crescimento do calcâneo.

O calcâneo é o principal osso da parte posterior do pé. Seu crescimento ocorre no sentido de anterior para posterior, por um processo conhecido como aposição. De forma simplificada, é como se o crescimento acontecesse em camadas, através da formação de uma região do osso conhecida por apófise, que é a região mais posterior e mais plantada (mais próxima do solo) deste osso. Além disso, é justamente nessa região onde se insere o Aquiles, o maior e mais resistente tendão do corpo.

Por esses motivos, essa apófise está sobre constante impacto e tração, sendo submetida a diversas forças e favorecendo um processo inflamatório, que caracteriza a apofisite.

O uso de calçados inadequados, sobretudo o hábito de algumas crianças de sempre usar chuteiras, é um dos fatores mais importantes na gênese deste problema.

A suspeita diagnóstica não é difícil já que na maioria das vezes os pacientes têm idade, histórias e hábitos semelhantes. No entanto, alguns diagnósticos devem ser descartados pelo exame clínico como tendinites, lesões cartilaginosas e artrites.

O exame físico destaca-se pela dor ao realizar a compressão látero-medial do calcâneo, conhecido por “squeeze test”. Eventualmente pode ser identificado encurtamento dos tendões da parte posterior da perna, sobretudo o Aquiles.

Nos exames complementares parece haver mais sinais de fragmentação da apófise pela radiografia, mas nos estudos não há uma comprovação desse achado para o diagnóstico.

Já a ressonância magnética é o exame que apresenta maior especificidade para o diagnóstico e pode demonstrar áreas de edema ósseo e osteocondrite no calcâneo. Devido a ser de maior custo e pouco tolerável para crianças menores, nem sempre é solicitado.

A apofisite do calcâneo é sempre uma doença autolimitada, ou seja, sempre se resolve sozinha, nem que seja ao término do crescimento da criança. No entanto, se não for manejada adequadamente pode se prolongar muito, trazer dor e prejuízos funcionais e emocionais à criança e aos pais.

O tratamento baseia-se no uso de calçados adequados, eventualmente com a inserção de palmilhas para melhor distribuição do peso.

Perda de peso quando em excesso, revisar as principais atividades da criança e a realização de alongamentos estão entre os cuidados que se deve ter, eventualmente inclusive com a prescrição de fisioterapia.

Em alguns casos, a criança apresenta tanta dor que pode ser necessário um tempo de repouso e imobilização da perna afetada.

O tratamento cirúrgico é praticamente desconsiderado do tratamento devido a não ser necessário na maioria das vezes.

É muito importante procurar especialista para guiar o melhor tratamento para cada caso.