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Epifisiólise
O Que É Epifisiólise?
A epifisiólise é uma doença pouco conhecida, dada sua raridade e baixa divulgação, podendo levar a uma demora na busca ao atendimento médico.
A alteração causa dores leves no início do quadro, e precisa de diagnóstico para que o tratamento seja iniciado o mais precocemente possível.
Para saber quais são suas causas, como o problema é diagnosticado e quais os tratamentos disponíveis, o texto abaixo esclarece um pouco mais esses pontos.
A epifisiólise, ou epifisiolistese, é caracterizada pelo deslocamento do fêmur em relação à epífise femoral. Literalmente ocorre o escorregamento da cabeça da cabeça do fêmur em relação ao restante do osso. Ela pode ocorrer de forma traumática (após uma queda, ou um impacto de maior energia na região do quadril) ou atraumática, que é a forma mais comum.
A epifisiólise decorre de uma combinação de fatores biológicos e mecânicos, com vários fatores de risco já conhecidos. Ocorre um aumento na largura e um enfraquecimento da cartilagem de crescimento (fise) por fatores endócrinos ou metabólicos, que podem estar relacionados à obesidade, o que também gera estresse mecânico sobre a cabeça femoral e favorece seu deslocamento.
O escorregamento pode ser lento ou agudo, mas sempre cursa com dor, e nas fases mais avançadas claudicação (leva a criança a mancar). Geralmente, a doença está relacionada ao período da puberdade.
Meninas de 10 a 12 anos e meninos entre 12 e 14 anos são os grupos mais acometidos pelo problema, mas crianças com outras doenças podem ser acometidas em uma idade mais precoce.
Fig. 1: Ilustração do escorregamento do fêmur ao nível da cartilagem de crescimento.
A epifisiólise é mais comum em meninos que meninas. Em geral, o quadro se manifesta em meninas quando estão muito acima do peso, mas crianças mais magras e em período de crescimento muito acelerado também, além de ser mais comum na população negra.
Doenças associadas, como gigantismo (aumento nos níveis de hormônio de crescimento), hipotireoidismo e insuficiência renal podem favorecer a ocorrência da epifisiolistese mesmo em idades mais precoces.
Devido aos fatores de risco envolvidos, é importantíssimo acompanhar de perto a saúde infantil, visando resguardar a criança de qualquer comprometimento ortopédico.
A epifisiólise pode se manifestar de maneira aguda ou insidiosa. No caso de uma manifestação aguda, além da dor, o paciente sente dificuldade de andar, sendo o principal sintoma que irá ocasionar a busca por ajuda médica.
Já no caso da manifestação insidiosa, ocorre um quadro inflamatório e de alteração mecânica no quadril. A dor irradia para a parte interna da coxa incomodando até a região do joelho mas eventualmente pode ocorrer SOMENTE no joelho. Nestas condições, o paciente costuma mancar com o membro afetado, tanto pela dor, como por alteração de força da musculatura do quadril. A perna do lado acometido costuma ficar encurtada e em rotação externa (com o pé virado para fora) em fases mais avançadas da doença.
A epifisiólise é uma doença tipicamente progressiva, ou seja, depois do seu início, é comum que ocorra piora do quadro, até que ocorra uma deformidade grave do quadril, além do risco de ocorrer do outro lado, já que pode ser ocasionada por fatores sistêmicos. Por esse motivo, é indispensável que o diagnóstico seja assertivo o quanto antes, porque o tratamento é sempre necessário.
O exame clínico em casos iniciais pode ter poucas alterações, apresentando somente algum desconforto à mobilização do quadril, sobretudo para extensão, rotação interna e abdução. Conforme o quadro avança, pode ser notado o encurtamento do membro, contraturas (limitação de movimento) para os movimentos acima relatados e pode aparecer o sinal clínico de Drehmann, que consiste na flexão do quadril às custas de rotação externa do membro.
Em caso de suspeita de epifisiólise, costumamos solicitar um exame de raio-x da bacia e do quadril sob suspeita. Algumas vezes a tomografia, que permite uma avaliação tridimensional do local estudado, pode ser mais específica no diagnóstico, além de ser possível de ser realizada em paciente que consegue mobilizar menos o quadril.
Outros exames de imagem, como cintilografia e ressonância magnética, visam fazer outros diagnósticos ou identificar alterações muito iniciais, e raramente são necessários.
Quando feito o diagnóstico uma avaliação metabólica e endocrinológica é essencial, pois apesar de interferir pouco sobre o tratamento ortopédico da epifisiólise, doenças associadas podem causar lesões em outros locais, e portanto, precisar de tratamento clínico.
Fig. 2: Epifisiólise do lado esquerdo. Note o biotipo do paciente, bem como encurtamento e rotação lateral do pé no membro afetado.
No momento imediato do diagnóstico, a criança deve ser mantida sem carga no membro, ficando limitada a uma cadeira de rodas até que seja realizado o tratamento, que deve ser de urgência.
O tratamento de epifisiólise é sempre cirúrgico. Muitas vezes é necessário fixar a cabeça e o colo do fêmur com um parafuso, para evitar que a doença progrida e cause outras complicações de saúde para o paciente.
No entanto, em casos mais avançados, pode existir a necessidade de realização de uma osteotomia (corte ósseo, correção da deformidade) para minimizar as alterações mecânicas que podem ocorrer. Existem várias técnicas descritas, como as osteotomias de Dunn, Kramer, Southwick e Imhauser, e a escolha depende de diversos fatores como o grau de acometimento, idade do paciente e experiência do cirurgião. Caso o quadril seja mantido incongruente, o que quer dizer, sem um contato adequado entre cabeça do fêmur e bacia, pode haver progressão para artrose e o paciente se tornar extremamente limitado.
Em algumas situações o quadril contralateral pode estar em risco de epifisiólise e pode ser necessário fixar cirurgicamente também.
Após o procedimento cirúrgico é recomendado que o paciente faça fisioterapia. O tratamento com fisioterapia é importante para ganho de força, mobilidade e minimizar as dores.
Além da indicação de fisioterapia após a cirurgia, o médico pode orientar seu paciente a realizar exercícios na água.
Os exercícios na água são indicados por ser uma modalidade de baixo impacto. Esse tipo de exercício atua permitindo a recuperação dos movimentos e da musculatura e minimizando os riscos de um novo trauma no local.
Fig 3: Tratamento após osteotomia do lado esquerdo e fixação profilática do quadril direito.
Quando a epifisiólise não é diagnosticada e tratada a tempo, a doença progride.
Ao confundir essa dor com um simples problema muscular e praticar automedicação, o risco de que a epifisiólise evolua é muito acentuado. Ocasionando dificuldade de andar, claudicação (ato de mancar), sobrecarga muscular e até mesmo o aparecimento precoce de artrose.
A artrose é uma doença que consiste na degeneração (desgaste) da cartilagem de uma articulação. Ao acometer o quadril, a dor costuma impedir a marcha normal comprometer a qualidade de vida sobremaneira.
Deste modo, o ideal é que toda dor incomum nos joelhos e quadris em pessoa em desenvolvimento, seja criança ou adolescente, seja devidamente investigada, sendo preciso buscar um diagnóstico o quanto antes.
Uma vez constatada a epifisiólise, o tratamento cirúrgico é mandatório. Desta forma conseguimos impedir a progressão ou ainda reverter deformidades já causadas pela doença.
Caso detectado e tratado de maneira precoce, com reabilitação adequada, a epifisiólise pode deixar mínima ou nenhuma sequela.
Após a epifisiodese (consolidação entre a cabeça e o restante do fêmur), o paciente pode retornar às atividades habituais de vida conforme sua tolerância, em período de cerca de 6 meses.