infantil

Pé plano
na criança

O que é pé plano ou pé chato?

O pé plano valgo e abduto, nome que damos ao pé chato, se caracteriza por um pé com redução do arco plantar medial, queda da borda interna do tornozelo devido a lateralização do calcanhar e direcionamento para lateral do antepé. Eles também são conhecidos como pés “pronados”.

É importante ressaltar que a conformação do pé deve ser avaliada com o pé apoiado no solo. Muitos pés só são caracterizados como planos, valgos e abdutos quando estão apoiados no chão.

Já o pé plano rígido apresenta outras causas, outro quadro clínico, e tem outras propostas de tratamento, portanto será apenas citado neste texto.

O pé plano valgo flexível é causado por uma incapacidade do complexo cápsulo-ligamentar e tendíneo da porção medial (da parte interna) do pé e tornozelo em sustentar o arco plantar, o que provoca um deslocamento dorsal e lateral do osso navicular, culminando com todas as alterações descritas acima. Pode haver contribuição de algum encurtamento do tendão de Aquiles na gênese do pé plano.

O pé plano é muito comum quando as crianças iniciam a marcha, e a formação do arco plantar é natural na grande maioria das crianças e só é completa com cerca de 6 a 7 anos de idade, independente de tratamento. Dessa idade, até os 12 anos, de maneira geral, existe ainda algum desenvolvimento no formato dos pés, mas de maneira menos importante. No entanto, cerca de 5 a 10% das crianças com pés planos irão manter esse padrão até a idade adulta, e isso não costuma trazer grandes consequências em casos leves.

Na maioria das vezes, o pé plano valgo flexível é assintomático. No entanto, algumas vezes a criança pode apresentar dor nos pés ou nas pernas devido a sobrecarga pela alteração biomecânica da marcha. Cabe destacar que devido a serem mais leves e ainda não terem ossificação completa, mesmo deformidades mais graves dos pés podem ser assintomáticas.

Quando há sintomas, os mais comuns são fadiga, dor nos pés ou na perna, canelites e tendinites com maior frequência, sobretudo relacionados a uma pior eficiência na geração de impulso. Isso ocorre porque o calcanhar muito lateralizado não é capaz de “entrar embaixo” do restante do pé para transmitir a potência que é gerada na perna.

Costumo dizer que muitas das crianças que são vistas como sendo mais “preguiçosas” se cansam mais cedo devido à ineficácia biomecânica dos pés planos.

O paciente deve ser examinado descalço, sendo visualizado tanto de frente como de costas como lateral e medialmente. Pelo exame clínico deve ser feito o teste da ponta dos pés e o teste de Jack, que consiste na elevação do hállux (dedo maior do pé). Em ambas as situações, se ocorrer a formação do arco plantar e medialização dos calcanhares, diz-se que o teste é positivo, configurando o pé como flexível. Devem ser avaliados possíveis encurtamentos tendíneos, como do Aquiles, e deformidades secundárias, como o hállux valgus (conhecida popularmente como joanete), que podem ser indicações de tratamento.

Na maioria das vezes o tratamento do pé plano flexível só é indicado no caso de apresentar sintomas ou no caso de deformidade acentuada sem expectativa de melhora, diferente do pé plano valgo rígido, que requer tratamento- inclusive cirúrgico- em quase todos os casos.
É sempre recomendado que a criança ande descalça em terrenos diferentes o maior tempo possível, como grama e areia, e que use calçados de solado menos flexíveis, às vezes de cano alto. Entenda que um solado mais rígido não quer dizer que não tenha amortecimento, mas aquele que não permita que o pé se dobre com facilidade. O uso de palmilhas feitas sob medida deve ser avaliado em situações em que há dor, fadiga ou a presença de grande deformidade.

A fisioterapia, com o intuito de fortalecimento de estruturas mediais (parte interna) do pé e alongamento do tendão de Aquiles é indicada na presença de sintomas quando há presença de contraturas (encurtamentos) pelo exame clínico.

Sempre, ao propor o tratamento, devemos ter em mente a evolução natural do pé plano, que é favorável espontaneamente, sobretudo em crianças dos 2 aos 6 anos. Além disso, sabe-se que o uso de botas, órteses e palmilhas não mudam a evolução natural da formação do arco plantar. O tratamento cirúrgico se reserva aos pacientes com deformidades graves, com doenças associadas e muito sintomáticos, geralmente após os 10 anos de idade. Existem várias técnicas disponíveis, e a indicação varia caso a caso, assim como seu tempo de recuperação.

Em pacientes com esqueleto imaturo, quando há indicação de tratamento, geralmente ao redor dos 10 anos, tenho a preferência por realizar a artrorrise da articulação subtalar, em uma região conhecida como seio do tarso. O termo artrorrise vem do grego, é representa uma mudança de posicionamento de uma articulação, qualquer que seja.

Há diversas formas de realizar uma artorrise da articulação subtalar; com implantes próprios para isso, com enxertos e cimentos ósseos, ou com implantes comuns, como parafusos canulados, que é o meu método de escolha habitualmente, conhecido como calcâneo-stop. Esse nome é uma referência ao impedimento da hipermobilidade dos calcanhares promovido pelo parafuso.

Uma incisão de 2 a 3 centímetros é realizada na parte lateral dos tornozelos e a colocação de um parafuso na localização e inclinação corretos permite uma correção imediata. Não é infrequente ser necessária a correção de deformidade dos halluces -“dedões dos pés”- simultânea.

O que agrada neste tipo de procedimento é que ele permite a correção tridimensional dos pés no exato no local que é o centro da deformidade, além dos benefícios óbvios de ser seguro, com baixas taxas de complicação, pouca dor pós-operatória e permitir que o paciente ande cedo, geralmente já nos primeiros dias de cirurgia.

Abrir bate-papo
Olá! Podemos ajudá-lo(a)?